Educação


Bullying
  Escutei de uma criança  de 11 anos que sofrera , segundo ela, bullying à dois anos atrás , por causa de seu peso , e agora voltou o que ela chama apenas "o sentimento." Disse  assim:-"para quem faz o bullying é até bom , mas para quem recebe é muito sofrimento " .  Eu pergunto a ela porque seria bom alguém fazer o bullying ? Que gosto estranho seria esse??!!! Continuamos a conversa , e ela reflete que o bullying feito por alguém a ela, já havia passado , mas que o bullying ainda permanece no seu sentimento. E concluímos juntas: estaria ela mesma se fazendo bullying???!!!


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ESCOLA E ADOECIMENTO

Hoje confirmei uma hipótese que venho desenvolvendo há mais tempo. A criança até 3 anos não necessariamente precisa de escola. MUITAS VEZES, A ESCOLA É MUITO AGRESSIVA PARA ELA ANTES DESSA IDADE. Atendi uma criança que, com 2 anos e 6meses, começara a escola, com um número grande de crianças na turma. Já há 2 meses, chora para entrar, avisando que não quer escola. Como não foi ouvida, iniciou uma sequência de adoecimentos, com falta de apetite, choro noturno e angústia. Estava realmente desvitalizada, sem brilho e pálida. 
Depois de muita conversa com ela e com seus pais, convenci-lhes a dar um tempo e pensar em outra estratégia de vida. Resultado: rapidamente sarou e voltou ao que era. A mãe disse:- "Nossa, ela estava murcha. Entendi agora o que é ouvir uma criança".
O MODELO QUE UMA CRIANÇA BUSCA DE REFERÊNCIA SÃO SEUS PAIS. TUDO QUE INTERESSA A ELA É VER COMO PAI E MÃE FUNCIONAM- COMO ELES VIVEM E SE INVENTAM. ISSO É O PRECIOSO NO INÍCIO DE UMA CONSTRUÇÃO DE MATRIZ DE FUNCIONAMENTO. O SOCIAL VEM DEPOIS. A REFERÊNCIA COLETIVA, A EXPERIÊNCIA COLETIVA, VEM DEPOIS. NÃO PODEMOS INVERTER ESTA ORDEM. IMUNOLOGICAMENTE NÃO É POSSÍVEL.

OUVIR UMA CRIANÇA É O MAIS MODERNO QUE PODEMOS. DURANTE QUANTOS ANOS NA HUMANIDADE, A POSIÇÃO DA CRIANÇA COM RELAÇÃO AO SEU DESEJO, FOI NEGLIGENCIADA???  ENTENDENDO A MANIFESTAÇÃO DO SINTOMA FÍSICO, VEJO QUE A CRIANÇA, FALA , GRITA, ADOECE, COMO RECURSO DE EXPRESSÃO DO QUE ESTÁ EM DESCONFORMIDADE PARA SUA NECESSIDADE, OU QUALIDADE DE VIVER. NÃO CUSTA NADA PARAR PARA OUVIR.

TEMOS PLANOS E PROJETOS PARA OS FILHOS, MAS A DECISÃO FINAL DEPENDE DA EXPERIMENTAÇÃO DO SER. QUEM EXPERIMENTA SÃO ELES, E NÃO, NÓS. TEMOS UMA IDÉIA MUITAS VEZES IMAGINÁRIA DO QUE SE PASSA ALI, ONDE ESTÃO E DE COMO ESTÃO VIVENCIANDO A EXPERIÊNCIA. OUVIR É MAIS BARATO DO QUE CUIDAR DO SINTOMA FÍSICO.

GOSTARIA MUITO DE CHAMAR DE OUTRO NOME, DIFERENTE DE DOENÇA, ESTES SINTOMAS FEITOS PELAS CRIANÇAS NO APURO DE SITUAÇÕES DIFÍCEIS PARA ELAS. SÃO SAÍDAS INCRÍVEIS PARA A PEQUENA POSSIBILIDADE DE DECISÕES QUE ELES TÊM. ALGUÉM DEVE OUVIR, PARA TRADUZIR A MENSAGEM CORRETAMENTE E ASSIM  APRENDER A FAZER LEITURAS CORRETAS. COM CERTEZA, CRIANÇAS MAIS OUVIDAS, MAIS COMPREENDIDAS, SABERÃO OUVIR E COMPREENDER MELHOR O OUTRO, TRAZENDO MAIOR POSSIBILIDADE DE ÉTICA PARA NOSSO PLANETA. O FUTURO DEPENDE DELAS.

USANDO NOSSA AUTORIDADE E NÃO, NOSSO AUTORITARISMO, PODEMOS PARTICIPAR DA CONSTRUÇÃO DE ALTERIDADES.

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MAIS UM CASO DE ESCOLATITE
Escolatite é o nome que criei para as doenças decorrentes do início da vida escolar.Estive hoje com uma menina linda e brava, com 1 ano e 10 meses, que jamais adoecera até ir para escola, com 1 ano e 3 meses. Apesar de aparentemente gostar da escola,  ainda  chora no momento de entrar. Ela ainda  está na fase do "é meu" e quando vê um coleguinha com algum brinquedo que deseja, abraça-o com muita força para que ele chore e solte o brinquedo para ela. Já está sendo nomeada de alérgica, o que não me agrada. ELA AINDA NÃO ESTÁ  BIOLOGICAMENTE PREPARADA PARA ENFRENTAR O COLETIVO. SE NÃO ESTÁ PREPARADA BIOLOGICAMENTE, TAMBÉM NÃO ESTÁ PSIQUICAMENTE. A FALA AINDA É PRECÁRIA, FALANDO COM ENTONAÇÃO, MAS AINDA DE SEU JEITO.

 ATÉ OS 3 ANOS A NATUREZA DA CRIANÇA  É DOMÉSTICA. ELA ESTÁ USANDO O SINTOMA FÍSICO COMO ÚNICO RECURSO POSSÍVEL DIANTE DESTA EXPERIÊNCIA QUE MUITO  EXIGE DELA. NOSSO SISTEMA IMUNOLÓGICO É O RESPONSÁVEL POR NOSSA ADAPTAÇÃO, MAIS AINDA DO QUE POR NOSSAS DEFESAS PROPRIAMENTE DITAS. VÊ-SE CLARAMENTE, NO CASO, QUE ELE ESTÁ TRABALHANDO EM EXCESSO PARA A ADAPTAÇÃO FORA DO TEMPO, POR ISSO FALHA EM IMPEDIR OS SINTOMAS FÍSICOS.

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MOMENTO DO PARA-CASA
Hoje vou falar sobre algo que aprendi com as dificuldades escolares, ou melhor, dificuldades dos pais com relação ao desenvolvimento escolar dos filhos.   Não é raro que o momento do para-casa seja um momento de muito stress, desespero, brigas e grosserias, o que não leva a lugar algum.     
Escutei uma história de uma mãe que perdera o controle na hora de ensinar o para-casa à sua filha e disse-lhe de modo nervoso: _ "Eu vou te matar!!!! "Bem de madrugada, a mãe escutou um toc-toc  amedrontado na porta de seu quarto e uma vozinha fina perguntava: _ "Mãe, que horas você vai me matar???"
Falemos primeiro em autonomia. NO PRIMEIRO PARA-CASA, PAI E MÃE  JÁ DEVEM ESTAR LONGE E DEIXAR A CRIANÇA COM A TAREFA QUE É SÓ DELA. VEJAM BEM, FALEI EM PRIMEIRO PARA-CASA. É  ISTO MESMO, O PRIMEIRO.  NUNCA. NEM  PAI , NEM MÃE, NEM AVÓ, NEM QUALQUER OUTRO ADULTO, NÃO DEVE, EM MOMENTO ALGUM, ACOMPANHAR  O PARA-CASA, SOB PENA DE NUNCA MAIS A CRIANÇA SE CONSIDERAR COMPETENTE PARA FAZER SOZINHA. Autonomia deve ser criada desde a primeira experiência. O para-casa é da criança  e só ela pode fazê-lo. Os para-casas devem ser dados  pela escola de acordo com a capacidade da criança. Não podem ser além da  sua capacidade. Se estiver muito difícil, deixa a professora ver que ela não conseguiu. Se pai e mãe ficam corrigindo qualquer pequeno erro, isso inibe e castra, às vezes, de modo irrecuperável, a criança.
ASSIM ACONTECE TAMBÉM COM O DESENHO, COM A GRAFIA DAS LETRAS NA ESCRITA. SE O ADULTO FAZ ANTES DA CRIANÇA FAZER, ELA SE INIBE E ACHA QUE SEU JEITO NÃO É O CERTO, NÃO ARRISCANDO MAIS.


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                                                          "BOMBA"
Hoje atendi um garoto que tomou bomba no terceiro ano. Fato inadmissível para um menino tão inteligente e curioso daqueles. Conversando com ele, ele me disse: eu gosto muito de aprender, não gosto é de estudar. Estudar passou a ser para ele a maior tortura de todos os dias. Seus pais sempre estiveram a seu lado durante o para-casa. Sempre leram para ele os enunciados. Quando vai fazer prova, tem muita preguiça de ler os enunciados, embora saiba ler com total habilidade . Sugeri que os pais lessem histórias de aventuras, emocionantes, para ele, antes de dormir e que não lessem mais seu para-casa, deixando suas dúvidas para serem tiradas com a professora.
Uso muitos elementos(significantes) que as crianças me trazem de sonhos, como metáforas para nossas conversas e sinto, que elas compreendem com clareza esta linguagem cifrada. Com esse garoto, falamos do ciúmes da irmã, do desejo de atenção dos pais, da necessidade de se construir  autonomia, etc, tudo através de elementos simbólicos que ele mesmo trouxe. Soube depois que ele passou a colorir seus desenhos, coisa que nunca havia feito. Sempre coloria cada um de uma só cor e agora, abusava do multicolorido. Sinto que houve uma nova abertura e interesse por parte dele. A mudança de colégio também mudou a abordagem e disposição do mesmo para o aprendizado.


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ADAPTAÇÃO
Hoje escutei uma história de uma criança que foi para escola com 2 anos e meio e sofreu cerca de 1 mês para se adaptar. Chorava todos os dias na porta da escola, até que ficou bem. Como era uma das mais velhas e mais madura, já usava até o piniquinho. A direção da escola chamou os pais e sugeriu que ela mudasse, no meio do ano, para a turma dos meninos maiores onde ela seria a mais novinha. Foi outra peleja para se readaptar, levando desta vez 3 meses. Chorava todos os dias e não queria entrar. Dizia veementemente que não queria ir para escola. Não estava acompanhando com tranquilidade o desenvolvimento intelectual dos colegas, tão bem como antes.
Hoje na consulta me falou que não estava gostando. Quando eu perguntei o nome de sua professora, soltou, num ato falho, o nome da primeira professora, com quem tinha muito afeto. Quando perguntei sobre sonhos, diz ter sonhado com os coleguinhas e eram os da primeira turma.
Diante desta situação reafirmo alguns princípios:
- Sempre é mais saudável ser mais velho numa turma do que o mais novo. É melhor para a auto-estima e confiança. Já vi um caso em que a criança tinha pesadelos repetidos que corria atrás dos coleguinhas, fato literal, devido à dificuldade cognitiva que apresentava, devido à sua imaturidade.
_ Nós adultos, muitas vezes temos pressa em ver o desenvolvimento da criança e erramos muito por precipitação. Neste caso, era muito melhor tê-la deixado onde estava, até porque o laço com a professora era para ela  o elo que a deixava segura fora de seu ambiente doméstico.

_ Insisto na idéia  de que a criança ainda não está pronta para ir para a escola antes de 3 anos. A individualidade,  a noção de EU, só avança depois de 3 anos. Precisamos ter um EU estruturado para irmos para o coletivo, o NÓS. PORTANTO MUITA CALMA E MUITO RESPEITO COM O TEMPO DO AMADURECER. FRUTA VERDE É DURA E TRAVA.

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O PARA-CASA É MEU

Minha filha estava com 7 anos e fazia já seu para-casa sozinha. Eu, no fim do dia, pedia para vê-lo. Um dia, cobriu o caderno com os braços e me disse: _" O para-casa é meu" , você não pode ver. _"Por que não? Adoro ver seu para-casa, foi o que eu disse". E ela respondeu:_"Porque você não aguenta e vai corrigir tudo. Disto eu não gosto".

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